quarta-feira, 12 de março de 2014
Não ponhas limites à sua vida
Não ponhas limites à sua vida!
Procure ouvir as notas harmoniosas e sublimes do canto maravilhoso que se evola da natureza.
Viva sorridente e alegre, para espantar as preocupações, para aliviar as lutas.
Mergulhe sua alma na alma da natureza: absorva a luz do sol, goze a suavidade da lua, contemple o esplendor das estrelas, aspire o perfume das flores.
A vida é bela, apesar das dores e dos contratempos.
(Minutos de Sabedoria - Carlos Torres Pastorino)
Procure ouvir as notas harmoniosas e sublimes do canto maravilhoso que se evola da natureza.
Viva sorridente e alegre, para espantar as preocupações, para aliviar as lutas.
Mergulhe sua alma na alma da natureza: absorva a luz do sol, goze a suavidade da lua, contemple o esplendor das estrelas, aspire o perfume das flores.
A vida é bela, apesar das dores e dos contratempos.
(Minutos de Sabedoria - Carlos Torres Pastorino)
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Reflexão
segunda-feira, 10 de março de 2014
A arte de rezar
Hoje
vou escrever sobre a arte de rezar.
Dirão
que esse não é tópico que devesse ser tratado por um terapeuta. Rezas e orações
são coisas de padres, pastores e gurus religiosos, a serem ensinadas em
igrejas, mosteiros e terreiros. Acontece que eu sei que o que as pessoas
desejam, ao procurar a terapia: é reaprender a esquecida arte de rezar.
Claro
que elas não sabem disto.
Falam
sobre outras coisas, dez mil coisas.
Não
sabem que a alma deseja uma só coisa, cujo nome esquecemos. Como disse T. S.
Eliot, temos conhecimento do movimento, mas não da tranqüilidade; conhecimento
das palavras e ignorância da Palavra. Todo o nosso conhecimento nos leva para
mais perto da nossa ignorância, e toda a nossa ignorância nos leva para mais
perto da morte.
A
terapia é a busca desse nome esquecido.
E
quando ele é lembrado e é pronunciado com toda a paixão do corpo e da alma, a
esse ato se dá o nome de poesia. A esse ato se pode dar também o nome de
oração.
Por
detrás da nossa tagarelice (falamos muito e escutamos pouco) está escondido o
desejo de orar.
Muitas
palavras são ditas porque ainda não encontramos a única palavra que importa.
Eu
gostaria de demonstrar isso - e a demonstração começa com um passeio.
Para
começar, abra bem os olhos! Veja como este mundo é luminoso e belo! Tão bonito
que Nietzsche até mesmo lhe compôs um poema:
“Olhei
para este mundo - e era como se uma maçã redonda se oferecesse à minha mão,
madura dourada maçã de pele de veludo fresco... Como se mãos delicadas me
trouxessem um santuário, santuário aberto para o deleite de olhos tímidos e
adorantes: assim este mundo hoje a mim se ofereceu...“
Tudo
está bem. Tudo está em ordem. Nada impede o deleite dessa dádiva. Ninguém
doente. Nenhuma privação econômica terrível. E há mesmo o gostar das pessoas
com quem se vive, sem o que a vida teria um gosto amargo.
Mas
isso não é tudo.
Além
das necessidades vitais básicas a alma precisa de beleza.
E
a beleza - o mundo a serve a mancheias. Está em todos os lugares, na lua, na
rua, nas constelações, nas estações, no mar, no ar, nos rios, nas cachoeiras,
na chuva, no cheiro das ervas, na luz que cintila na água crespa das lagoas,
nos jardins, nos rostos, nas vozes, nos gestos.
Além
da beleza estão os prazeres que moram nos olhos, nos ouvidos, no nariz, na
boca, na pele.
Como
no último dia da criação, temos de concordar com o Criador: olhando para o que
tinha sido feito, viu que tudo era multo bom.
E,
no entanto, sem que haja qualquer explicação para esse fato, tendo todas as
coisas, a alma continua vazia.
Álvaro
de Campos colocou este sentimento num poema:
“Dá-me
lírios, lírios, e rosas também. Crisântemos, dálias, violetas e os girassóis
acima de todas as flores. Mas por mais rosas e lírios que me dês, eu nunca
acharei que a vida é bastante, Faltar-me-á sempre qualquer coisa. Minha dor é
inútil como uma gaiola numa terra onde não há aves. E minha dor é silenciosa e
triste como a parte da praia onde o mar não chega.“
Como
se uma nuvem cinzenta de tristeza-tédio cobrisse todas as coisas.
A
vida pesa. Caminha-se com dificuldade. O corpo se arrasta.
As
pessoas procuram a terapia alegando faltar um lírio aqui, uma rosa ali, um
crisântemo acolá.
Buscam,
nessas coisas, a única coisa que importa: a alegria.
Acontece
que as fontes da alegria não são encontradas no mundo de fora.
É
inútil que me sejam dadas todas as flores do mundo: as fontes da alegria se
encontram no mundo de dentro.
O
mundo de dentro: as pessoas religiosas lhe dão o nome de alma.
O
que é a alma? Alma são as paisagens que existem dentro do nosso corpo.
Nosso
corpo é urna fronteira entre as paisagens de fora e as paisagens de dentro. E
elas são diferentes.
“O
homem tem dois olhos“, disse o místico medieval Angelus Silésius. “Com um
ele vê as coisas que passam no tempo. Com o outro ele vê o que é eterno e
divino.“
Em
algum lugar escondido das paisagens da alma se encontram as fontes da alegria -
perdidas.
Perdidas
as fontes da alegria as paisagens da alma se apagam, o corpo fica como uma casa
vazia. E quando a casa está vazia, vai-se a alegria. E as paisagens de fora
ficam feias (a despeito de serem belas).
O
mundo de fora é um mercado onde pássaros engaiolados são vendidos e comprados.
As pessoas pensam que, se comprarem o pássaro certo, terão alegria. Mas
pássaros engaiolados, por mais belos que sejam, não podem dar alegria.
Na
alma não há gaiolas.
A alegria é um pássaro que só vem quando quer. Ela é livre. O máximo que podemos
fazer é quebrar todas as gaiolas e cantar uma canção de amor, na esperança de
que ela nos ouça.
Oração
é o nome que se dá a esta canção para invocar a alegria.
Muitas
orações são produtos da insensatez das pessoas. Acham que o universo estaria
melhor se Deus ouvisse os seus conselhos.
Pedem
que Deus lhes dê pássaros engaiolados, muitos pássaros. Nisso protestantes e
católicos são iguais. Tagarelam. E nem se dão ao trabalho de ouvir. Não sabem
que a oração é só um gemido.
“Suspiro
da criatura oprimida“: haverá definição mais bonita? São palavras de Marx.
Suspiro: gemido sem palavras que espera ouvir a música divina, a música que, se
ouvida, nos traria a alegria.
Gosto
de ler orações. Orações e poemas são a mesma coisa: palavras que se pronunciam
a partir do silêncio, pedindo que o silêncio nos fale.
A
se acreditar em Ricardo Reis, é no silêncio que existe no intervalo das
palavras que se ouve a voz de “um Ser qualquer, alheio a nós“, que nos
fala. O nome do Ser? Não importa. Todos os nomes são metáforas para o Grande
Mistério inominável que nos envolve.
Gosto
de ler orações porque elas dizem as palavras que eu gostaria de ter dito mas
não consegui.
As
orações põem música no meu silêncio.
(Rubem
Alves – in “Transparências da eternidade”, Editora Verus)
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