sexta-feira, 2 de março de 2012

Bem aventurados os pacificadores

A palavra latina pacificare, da qual é derivada pacificus, é composta de dois radicais (e o mesmo acontece em grego): pax e facere, isto é, "paz" e "fazer". Pacificador (em latim pacificus) é, pois, aquele que faz a paz, é um "fazedor de paz", um homem que possui em si a força creadora de estabelecer ou restabelecer um estado ou uma atitude permanente de paz no meio de qualquer campo de batalha.
A tradução "pacíficps", em vez de "pacificadores", que se encontra em muitas versões portuguesas, não corresponde ao sentido do original grego eirenopoioi, nem ao latim pacifici, porque ambos significam um processo ativo e dinâmico, e não apenas um estado passivo de paz.
Quem é, pois, verdadeiro pacificador?
Nãoé, em primeiro lugar, aquele que restabelece a paz entre pessoas ou grupos litigantes, mas sim aquele que estabelece e estabiliza a paz dentro de si mesmo. Aliás, ninguém pod ser verdadeiro pacificador de outros se não for pacificador de si mesmo. Só um auto-pacificador é que pode ser um alo-pacificador. A pior das discórdias, a mais trágica das guerras é o conflito que o homem traz dentro de si mesmo, o conflito entre o ego físico-mental da sua humana personalidade e o Eu espiritual da sua divina individualidade. Se não houvesse conflito interior, entre o seu Lúcifer e o seu Lógos, não haveria confitos exteriores, na família, na sociedade, nas nações, entre povos. Todos os conflitos externos são filhos de algum conflito interno não devidamente pacificado. Por isto, é absurdo querer abolir as guerras ou revoluções de fora, as discórdias domésticas no lar ou no campo de batalha, enquanto o homem não abolir primeiro o conflito dentro da sua própria pessoa.
O grande tratado de paz tem que ser assinado no foro interno do Eu individual antes de poder ser ratificado no foro externo das relações sociais. Nunca haverá Nações Unidas, nunca haverá sociedade ou família unida enquanto não houver indivíduo unido. Pode, quando muito, haver um precário armistício (que quer dizer "repouso de armas"), mas não uma paz sólida e duradoura enquanto o indivíduo estiver em guerra consigo mesmo. Que é um armistício se não uma trégua, maior ou menor, entre duas guerras? Paz social, segura e estável, supõe paz individual, firme e sólida.

*** 

O Sermão da Montanha - Huberto Rohden - 8ª ediçãp/Alvorada - pg.57

Nenhum comentário:

Postar um comentário