terça-feira, 20 de setembro de 2011

Estesia - Rabindranath Tagore



CANTO VII

Quando ele chegou à minha casa eu nada possuía para oferecer.
Sentou-se ao meu lado, e a sua beleza deu-me dimensão
da minha insignificância.
Fiquei humilhado e quis fugir.
Não lhe podia ouvir a voz, envergonhado pela minha pobreza.
E ele que havia escolhido a minha pequenez, para
engrandecer-me com a luz da sua compreensão!
Quando partiu, é que verifiquei haver nas minhas
necessidades a fortuna do orgulho que me compete vencer,
a fim de que, de outra vez, ele me enriqueça de paz.
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CANTO XIV

Só Tu és o meu Deus e o meu Senhor!
Quando Te busco na pradaria ou nas constelações, na água
do rio ou no vento dos espaços, na corça assustada ou no
elefante lento, onde quer que seja fora de mim, eis que lá estás,
sem que tenhas saído de dentro do meu coração.
Tu és o meu alento de vida e a força universal, o pulsar das
galáxias e o coaxar dos sapos, o Amor, o Amante e o Amado...
Tu me bastas, meu Rei, e me inundas de alegria, ante o
singelo fato de recordar-me de Ti.
Porque estás em mim, eu me respeito e me amo, tornando-me
pousada tranqüila para o repouso dos Teus pés viajeiros.
Para que me preocupar com os nomes que te dão?
Só Tu és o meu Deus e o meu Senhor!
E o és porque me conheces e eu Te conheço também.
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CANTO XXII

Quem disse que “amar é sofrer”, jamais amou.
O beijo do ar da madrugada desperta a vida que dorme.
O sorriso da lua engrinaldada de estrelas diminui as sombras.
A carícia do sol vitaliza todas as coisas.
E a chuva que lava a terra, e reverdece o chão, e abençoa o
mundo,correndo no rio, esvoaçando na nuvem esgarçada,
são as tuas expressões de amor.
Construtor real, demonstrando o teu poder, a tua
grandeza e a minha pequenez.
Quem ama, sempre doa, e não sofre, porque ama.
O amor é luz e pão, é ar e paz.
Quem diz que amar é sofrer ainda está esperando
pelo amor e jamais amou.
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Rabindranath Tagore


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