domingo, 12 de fevereiro de 2012

Estesia - Canto LX

Penetra-me, Senhor, com o Teu punhal de luz, rasgando a espessa treva interior, em que me consumo.
Em sofreguidão tenho-Te procurado pelo ínvios matagais, e, quando chego, já não estás, havendo partido para as longes terras do sem-fim.
Penetra-me, Senhor, como se uma ridente madrugada devorasse toda a noite de minha alma amesquinhada no erro, a fim de que jamais me perca pelos báratos da insensatez.
Desde há muito que Te busco, todavia, por onde passo defronto as notícias de que já transitaste por aqueles sítios ora ressequidos e tristes.
Penetra-me, Senhor, e faze-me sangrar de tal forma que o lugar da ferida permita-me o dreno da purificação.
Buscando o amor, tropecei n desejo, e ansioso pela paz, desperto na guerra.
Só Tu possuis a espada que fere e rasga sem magoar.
Desse modo, por que, Senhor, não me dominas?
O dia vai longe, a manhã se afogou na força soberana do Sol e a tarde aproxima-se da noite...
Receio as trevas e não possuo lume para caminhar.
Coruscam as estrelas no zimbório, enquanto tropeço no chão em sombras.
Domina-me, Senhor, antes que a treva me vença.
Enche-me, prenche-me de luz e deixa-me clarificar os imensos caminhos dos transeuntes anônimos que seguem sem rumo, procurando nada.
Acalma-de, Senhor, e deixa-me sentir e sofrer a Tua presença, porquanto, possuído pelo punhal flamejante da Tua força, não mais me pertencerei e podei asseverar nesta noite de paixões: "Não vivo mais, é o Senhor Poderoso, o Rei de Todos os Reis, Quem vive em mim!"
Penetra-me, Senhor, e não me abandones jamais.

Canto LX - Tagore / Divaldo Franco

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