sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Amor sem ilusão

AMOR SEM ILUSÃO

Conta-se que um jovem caminhava pelas montanhas nevadas da velha Índia, absorvido em profundos questionamentos sobre o amor, sem poder solucionar suas ansiedades.
Percebeu que, pelo mesmo caminho, vinha em sua direção um velho sábio.
E porque não conseguia encontrar uma resposta que lhe aquietasse a alma, resolveu pedir ao sábio que o ajudasse.
Aproximou-se e falou com verdadeiro interesse:
Senhor, desejo encontrar minha amada e construir com ela uma família, com base no verdadeiro amor.
Todavia, sempre que me vem à mente uma jovem bela e graciosa e eu a olho com atenção, em meus pensamentos ela vai se transformando rapidamente.
Seus cabelos tornam-se alvos como a neve, sua pele rósea e firme fica pálida e se enche de profundos vincos.
Seu olhar vivaz perde o brilho e parece perder-se no Infinito. Sua forma física se modifica acentuadamente e eu me apavoro.
Desejo saber, meu sábio, como é que o amor poderá ser eterno, como falam os poetas?
Naquele mesmo instante, aproxima-se de ambos uma jovem envolta em luto, trazendo no rosto expressões de profunda dor.
Dirige-se ao sábio e lhe fala com voz embargada:
Acabo de enterrar o corpo de meu pai, que morreu antes de completar 50 anos.
Sofro, porque nunca poderei ver sua cabeça branca aureolada de conhecimentos, seu rosto marcado pelas rugas da experiência, nem seu olhar amadurecido pelas lições da vida.
Sofro, porque não poderei mais ouvir suas histórias sábias, nem contemplar seu sorriso de ternura.
Não sentirei suas mãos enrugadas tomando as minhas com profundo afeto.
Naquele momento, o sábio dirigiu-se ao jovem e falou com serenidade:
Você percebe agora as nuanças do amor sem ilusões, meu jovem?
O amor verdadeiro é eterno porque não se apega ao corpo físico, mas se afeiçoa ao ser imortal que o habita temporariamente.
É nesse sentimento sem ilusões nem fantasias que reside o verdadeiro e eterno amor.

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