segunda-feira, 28 de março de 2011

O Princípio Inteligente




Chama-nos a atenção, a quantidade de vezes em que aparece em O Livro dos Espíritos, em versão eletrônica, o vocábulo “Inteligência”.
Cento e quarenta e quatro vezes, quando “Amor” aparece oitenta vezes, e “Princípio Inteligente“, que é a definição de Espírito, dezesseis vezes.

O espírito, que é criado simples e ignorante, e que tem como objetivo a perfeição, está inserido na Lei do Progresso, o que significa desenvolver sua inteligência.
O espírito Ferdinando, espírito protetor, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, nos fala da missão do homem inteligente na Terra, primeiro nos alertando que por mais que saibamos, este saber tem limites muito estreitos na Terra, e em seqüência, que o uso deve ser para o bem de todos.

Mas, o que é ser inteligente?
O Homem tem buscado entender e quantificar a inteligência há muito tempo, mas foi no século XX que as pesquisas e descobertas se desenvolveram.

Em 1905, Alfred Binet e Theodore Simon criaram a Escala Binet-Simon, usada para identificar crianças com deficiência no aprendizado escolar.
Baixos resultados indicavam uma necessidade de intervenção mais aprofundada dos professores, mas não significava inabilidade para a aprendizagem.
Alcançou enorme sucesso.

Em 1912, Wilhelm Stern propôs o termo “QI” (quociente de Inteligência) para representar o nível mental, e introduziu os termos “idade mental” e “idade cronológica”, e o QI seria determinado pela divisão da idade mental pela idade cronológica.
Com o passar dos anos, alguns ajustes ocorreram, e finalmente em 1939, David Wesheler criou o primeiro teste de QI para adultos.

Durante quase todo o século XX o Homem maravilhou-se com o QI, e o utilizou largamente, identificando os mais diversos níveis de inteligência, endeusando, não poucas vezes, os portadores de altas pontuações, alçando-os a posições de destaques na sociedade, nos meios políticos e profissionais, e relegando, quase à marginalidade, os portadores de níveis normais e infranormais, quando não, manipulando-os segundo seus interesses.

Mas, assim como as grandes inteligências provocaram as grandes descobertas, produzindo o progresso tecnológico humano, produziram também catástrofes em larga escala – as grandes e pequenas guerras, por exemplo, produzindo dores e prejuízos sem monta.
E todos nós conhecemos pessoas inteligentíssimas que não são felizes, que possuem dificuldade de socialização, e outras simplórias, segundo a escala do QI, que são felizes e fazem os outros felizes.
Deduzimos então, que ser portador de alto índice de QI não é suficiente para dar ao homem o de que necessita para se sentir completo. Falta-lhe algo mais.

Na década de 1990, surgiu um outro tipo de inteligência, a “Inteligência Emocional”, denominada QE, cujo principal defensor, o norte-americano Daniel Goleman, trabalha a idéia de que o controle emocional contribui para o desenvolvimento da inteligência do indivíduo, e que a situação de violência e criminalidade do mundo de hoje é reflexo da cultura que se preocupou com o QI, esquecendo-se do lado emocional do ser humano.

É preciso trabalhar as emoções, corrigindo as reações instintivas, utilizando-as inteligentemente, controlando e evitando as negativas, o medo, a ansiedade e a raiva, que são as piores, e as positivas, a esperança é a maior delas, para viver melhor e produzir mais.
Emmanuel, muito antes, em “Pensamento e Vida”, já nos adverte sobre o controle das emoções, dado o impacto que as mesmas proporcionam ao nosso corpo físico, via perispírito, o que a ciência já tem comprovado largamente.
Segue-se que o QI nos mostra como funciona e como fazer, e o QE nos aponta como nos comportar diante da vida.

Evidentemente, não se trata de tornar-se frio diante dos acontecimentos, mas sim tirar proveito das emoções para viver melhor.
Ainda na década de noventa surgiu a idéia de que homem é portador de inteligências múltiplas, e que todas são passíveis de serem desenvolvidas, embora seja natural a que umas se mostram mais avantajadas do que outras.

Mas é no final do século vinte que aparece, com mais ênfase, a idéia de que o que falta no homem é desenvolver sua inteligência espiritual, para que possa se completar enquanto se humano.

A física e filósofa Danah Zohar desenvolveu amplo trabalho nesse sentido, e talvez tenha se tornado a maior porta voz da "Inteligência Espiritual", ou QS, em inglês, dizendo que é preciso se questionar se queremos vivenciar esta ou aquela situação, ou seja, se vale a pena enquanto seres humanos talhados para a extrapolar a materialidade em direção à subjetividade da moral superior.
A Dra. Danah identifica algumas características das pessoas desenvolvidas ou em desenvolvimento espiritual: praticar o autoconhecimento, não temer as adversidades, pensar no todo, praticar saudavelmente o "por quê?", ter compaixão, etc.

Para nós, espíritas, essas características não são novidades. Há cento e cinquenta e três anos a Doutrina Espírita vem nos conduzindo a esse entendimento, apontando-nos como alcançá-lo, explicando-nos os mecanismos da vida, suas leis, baseada na perfeita interpretação do evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, nas obras de Kardec, e também nas obras subsidiárias.

Não se trata, porém, de abandonarmos o desenvolvimento dos QI e QE, mesmo porque o espírito, enquanto princípio inteligente, caminha, inexoravelmente, à perfeição, o que significa desenvolver-se por completo.

É o que podemos inferir da orientação do Espírito da Verdade quando nos aponta o "amai-vos e instrui-vos", sem nos direcionar a esse ou aquele ponto preferencialmente.

Finalmente, podemos deduzir que ser inteligente, na Terra, é seguir as orientações evangélicas, tais como o perdoar, ceder, socorrer, enfim, trabalhar no Bem e para o Bem, tirando proveito, espiritualmente, de todas as situações em que venhamos experimentar, para progresso de nossos espíritos.



Pensemos nisso.


Antonio Carlos Navarro

C. E. Francisco Cândido Xavier

S. J. do Rio Preto/ SP

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